ANONIMATO

Eu entendo que a melhor forma de coibir as fake news, a proliferação de robôs e perfis falsos, é vinculando tudo a um CPF. Quer escrever besteira e difamar outras pessoas? Fique a vontade, mas responda por isto! Liberdade com responsabilidade.” – Alexis Fonteyne

Já fui favorável a essa ideia, de coibir o anonimato, mas, depois repensei e hoje acho má ideia. Tem pessoas que sabem coisas importantes mas estão sob pressão ou ameaças e preferem falar de forma anônima. Tem pessoas que não querem se comprometer, então, se tiverem de se identificar, vão deixar pra lá segredos que são de interesse público. E, finalmente, se vamos acabar com o anonimato teríamos que acabar também com o sigilo da fonte. Afinal, se todos são iguais perante a lei, não há porque jornalistas terem o privilégio do anonimato em detrimento dos outros mortais. Não podemos jogar a criança fora com a água do banho. Acabar com o anonimato teria mais efeitos ruins do que bons. O que precisamos é cultura de ceticismo, é aprendermos a desconfiar do que ouvimos, a checar os dados quando possível, a nos informarmos em fontes variadas. Não há salvação fora da liberdade.

Os posts da categoria “Respostas Abertas” comentam textos alheios que me chamaram a atenção em alguma rede social. O post original é a parte transcrita em “itálico”. O autor é citado quando possível. Se o texto for seu e não te dei crédito ou você não permite a transcrição, favor entrar em contato.

PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Uma pesquisa divulgada hoje, 18-Jun-2020, pelo DataSenado (Instituto de Pesquisas do Senado Federal), afirma que 84% dos brasileiros são favoráveis à criação de uma lei de combate às fake news. A pesquisa tem lá sua margem de erro. Mas, não duvido desse número. Muita gente é influenciável por campanhas massivas de mídia. Por isso, me sinto na obrigação de fazer um apelo aqui pra minha bolha de contatos. Se você está entre esses 84%, reflita um pouco mais sobre isso. Não existe controle de notícias falsas. Existe controle de notícias. Se for dado a alguma instituição o poder de determinar o que é notícia, as pessoas que a compuserem irão inevitavelmente barrar notícias que lhes incomodem e deixar passar notícias que ratifiquem suas crenças, desejos e interesses. Não farão isso porque são más, desonestas ou incompetentes. Farão isso porque são humanas. É da natureza humana olhar com mais boa vontade o que nos agrada e com um viés mais crítico o que vai contra nossos valores e crenças. É da natureza humana julgar com mais rigor os desafetos e ser mais leniente com os amigos. Quem nunca criticou duramente uma pessoa de que não gostava e, depois de conhecer melhor a pessoa e fazer amizade com ela, passou a ver seus defeitos como maus menores, que atire a primeira pedra. Algumas notícias falsas podem ser fáceis de identificar, mas, na maioria das vezes, a separação entre o que é falsidade e o que é opinião é sutil, é subjetiva, e é por isso que tal análise tem de ficar a cargo de cada espectador, não de uma autoridade supostamente mais iluminada. O nosso país já dispõe de uma variedade de leis e institutos legais que permitem a correção de eventuais excessos de liberdade de expressão. Quem se sentir prejudicado pode procurar a justiça. Não há necessidade de mais lei nessa área. Qualquer lei que seja criada com intuito de evitar notícias falsas, mesmo que com as melhores intenções, será fatalmente usada pelas autoridades de plantão para calar adversários. Sei que é tentador buscar maneiras de calar quem diz coisas que achamos desprezíveis, especialmente quando essas pessoas estão no governo. Mas, lembrem-se, governos passam, quatro anos é um pulinho em termos de história. Já liberdades perdidas são difíceis de se reconquistar. A liberdade de expressão em nosso país é uma conquista recente e que custou muita luta. Não deixemos que ela se perca tão rápido. Não aceitemos tão fácil a volta da censura.

ANTIFAS E TALIBÃS

2001: Talibãs destroem estátuas históricas de Buda no Afeganistão e são criticados pelo mundo todo.

2020: Antifas destroem estátuas históricas diversas nos EUA e em outros países ocidentais e são aplaudidos por muitos.

Será que tá na hora de se pedir desculpas aos Talibãs e reconhecer o direito deles de destruírem os símbolos de seus opressores históricos?

PROFISSIONAIS DE SAÚDE AMERICANOS DEFENDEM AGLOMERAÇÃO CONTA RACISMO

1288 profissionais de saúde pública, especialistas em doenças infecciosas e representantes de comunidades nos Estados Unidos publicaram uma carta aberta defendo a aglomeração durante a pandemia para protestar contra o racismo.

Algumas das recomendações da carta se destacam:

. “Apoiar os governos locais e estaduais na defesa do direito de protestar e permitir que os manifestantes se reúnam”.
. “Não dispersar os protestos sob o pretexto de manter a saúde pública por restrições à COVID-19”.
. “Defender que os manifestantes não sejam presos ou mantidos em espaços confinados, incluindo prisões ou vans da polícia, que são algumas das áreas de maior risco para transmissão COVID-19”.
. “Rejeitar as mensagens de que o uso de máscaras é motivado pelo desejo de ocultação e, em vez disso, celebrar rostos cobertos como proteção à saúde pública no contexto do COVID-19”.
. “Preparar-se para um número maior de infecções nos dias após um protesto. Proporcionar maior acesso para testar e cuidar de pessoas nas comunidades afetadas, especialmente quando elas ou suas famílias os membros se arriscam participando de protestos”.

De duas uma: Ou a causa que a pessoa defende a torna imune a contrair e transmitir o vírus; Ou estamos diante de um caso flagrante de dois pesos e duas medidas.

Goerge Orwell nunca foi tão atual. Viva o duplipensar.

Confie na ciência, eles disseram. A ciência está acima de partidos e ideologias, eles disseram.

Link para a carta original em inglês.

FATOS E NARRATIVAS

Conversinha interessante que tive com um amigo hoje.

. Amigo: os três países líderes no rank de morte por covid são governados pela direita (UK, US, Brasil).
. Eu: comparar números absolutos quando os países têm populações diferentes não tem sentido.
. Amigo: calcula aí os números proporcionais, então.
. Eu: Tá aqui um site que faz isso em tempo real (UK, 2o, US, 9o, Brasil, 13o).
. Amigo: esse índice é péssimo!

Conclusão: se os fatos não corroboram a narrativa, dane-se os fatos.

Obs: acho que os três referidos países estão lidando mal com a pandemia. Mas, priorizo a verdade antes das narrativas.

DEVEMOS CONFIAR NA CIÊNCIA?

Ao longo de sua história, a ciência já deu abundantes provas de sua utilidade. Há muitos bons motivos para as sociedades valorizarem a ciência e promover o conhecimento científico. As pessoas precisam de compreensão e familiaridade com conceitos científicos para poderem fundamentar suas opiniões com conhecimento ao invés de palpites. Mas, a palavra chave é conhecimento, não é confiança. Confiar em cientistas como se esses fossem sacerdotes modernos seria o contrário de valorizar a ciência.

CERTEZAS OU VERDADES?

Diante de um fenômeno complexo e com variáveis importantes ainda desconhecidas, desconfie de quem faz afirmações cheias de certezas. A chance de a pessoa não saber direito do que tá falando é considerável. Se a pessoa, ao invés de argumentos, apresenta credenciais, sejam tais credencias políticas ou acadêmicas, desconfie mais ainda. É bem possível que a pessoa esteja dando uma carteirada. Pra completar, quanto mais a pessoa fica indignada por receber críticas, maior a chance dela estar errada.

PANDEMIA OU MILITÂNCIA?

Não use o corona vírus como argumento para reafirmar suas causas e ideologias, seja para defender a universidade pública, o livre mercado, o SUS, o controle de fronteira ou o que quer que seja. Isso soa tão egoísta, tão medíocre. O momento é de colaboração e solidariedade. Será que não conseguimos deixar as divergências de lado e parar de alfinetar quem pensa diferente nem no meio de uma tragédia?