NOVA ORDEM MUNDIAL

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Não. Esse post não é sobre uma suposta elite mundial que vai implantar um governo globalista autoritário. Se você é fã de teorias da conspiração atraído pela provocação do título, [não] lamento decepcioná-lo. Continue lendo assim mesmo. De repente você gosta.

Eu confesso. Sempre tive uma pitada de inveja da geração que viveu a década de 1940. Apesar da guerra e de todo sofrimento desencadeado por ela, quem sobreviveu teve a oportunidade de ver o mundo passando por um turnaround, a história dando um cavalo-de-pau bem à sua frente. Em poucos anos a organização política e social do planeta se reconfigurou totalmente, um mundo novo nasceu. Pra quem tava prestando atenção, deve ter sido fascinante de assistir e participar.

Não mais. A invejinha acabou. Suspeito que terei minha própria oportunidade de ver o mundo humano dando uma nova pirueta. Visto por essa perspectiva, a década de 2020 começa animadora. Três fluxos simultâneos parecem se mover nessa direção.

Primeiro, a epidemia, chegando de surpresa e lembrando a todos que somos frágeis; que o mundo lá fora é perigoso; que muitos de nós gostamos de ter um governo que cuide de nós, amenize nossas angústias com certezas bem faladas e nos proteja até mesmo uns dos outros; que na hora do aperto voltamos pra casa e nos refugiamos junto a poucos amigos e familiares. A epidemia empodera a autoridade, justifica os controles, faz muitos de nós desejar ordem mais do que progresso e até esquecer que existe uma tal liberdade. Mesmo que a epidemia esmoreça, acho difícil de não surgir a epidemia 2.0, a 2.0 plus e assim por diante. Daqui pra frente, vamos olhar mais pro mundo microscópico. E quem procura, costuma achar.

Segundo, a divisão do Ocidente entre direita e esquerda chegou num ponto crítico. A esquerda turbinada pelos movimentos identitários. A direita não aguentando mais a pressão da esquerda por reengenharia social. As tensões aumentando. Grupos indo pra rua, partindo pra destruição, às vezes pra porrada. O centro cada dia mais estrangulado. O diálogo entre os extremos diminuindo. As pontes sendo trocadas por muros, figurativa e literalmente. A desumanização de quem tá do outro lado em ritmo crescente.

Terceiro, a China assumindo uma posição de protagonista no mundo. Com o Xi Jinping tendo consolidado seu poder, O PCC mudou de estratégia. Já não disfarça mais seu desejo de comandar o planeta ou pelo menos uma boa parte dele. Se apresenta claramente como antagonista dos EUA, como arauto de um novo modo de organização política, social e econômica. Um modo autoritário, planejado e centralizado, em contraposição à democracia liberal que anda em crise no ocidente. Busca ativamente aumentar sua influência tanto em organizações internacionais quanto dentro de diversos países mundo afora, tanto no nível econômico quanto político. E conta com a vantagem de ser uma sociedade unificada pela força, sem a divisão social que predomina no Ocidente. Ao mesmo tempo, diversos países ocidentais começam a perceber que não dá mais pra tratar a China como um país qualquer, que a tentativa de integrar a China ao Ocidente que vem sendo feita desde o fim da Guerra Fria saiu pela culatra. E muitos começam a reagir. Vemos empresas chinesas sendo banidas de alguns mercados. O tabuleiro da Guerra Fria 2.0 está posto.

Esses três movimentos simultâneos e entrecruzados me parecem ter tudo pra produzir uma mudança disruptiva no planeta. Prever o futuro é uma brincadeira ingrata e é difícil imaginar no que vai dar. Além disso, nós humanos temos uma tendência a pensar que estamos vivendo um momento único na história. É parte da nossa vaidade. Mas, estou apostando que na década de 2030 viveremos num mundo que será, em diversos aspectos, muito diferente do que conhecemos agora. A diferença de cenário entre 2030 e 2020 será muito maior do quaisquer diferenças que podemos notar hoje em relação a 2010.

Os posts da categoria “Profecias” são pequenos chutes, digo, previsões que deixo aqui pra conferir no futuro. São só uma pequena brincadeira com a incerta arte da futurologia.

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