EVOLUÇÃO X DESIGN INTELIGENTE

Por décadas, criacionistas tentaram substituir a Teoria da Evolução pelo Livro do Gênesis, porém, a evolução prevaleceu nas escolas e foi ratificada quando atacada na justiça. A luta pela sobrevivência fez surgir novos tipos de criacionistas, melhor adaptados ao ambiente atual. O novo criacionismo se disfarça sobre o nome de design inteligente e é mais perigoso do que o criacionismo à moda antiga.” – Post de um grupo fechado do qual participo.

Sim, ainda tem por aí muito gente que não aceita a Teoria da Evolução. Lamento por elas. Porém, Me impressiona mais a quantidade de pessoas que aceitam a Teoria da Evolução na biologia, mas, não conseguem reconhecer o poder dos processos evolutivos em outras áreas. E são pessoas com acesso a conhecimento e cultura. Pessoas que preferem planejamento centralizado a liberalismo na economia estão optando por um suposto design inteligente ao invés de evolução. Pessoas que olham pra história come se essa fosse planejada e dirigida por uma elite ao invés de ser um processo caótico resultante de interesses individuais que se entrecruzam estão favorecendo a ideia de design inteligente ao invés de evolução. E assim por diante. Processos evolutivos estão acontecendo pra todo lado à nossa volta e muitos de nós não conseguimos percebê-los e seguimos buscando (e culpando) algum projetista genial atrás de cada processo complexo. Então, antes de rir de quem acredita em design inteligente na biologia, talvez seja melhor a gente checar as nossas crenças e ver se não estamos também acreditando em design inteligente.

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COMÉRCIO DE CORPOS

Penso que é bastante evidente a razão pela qual o Direito Civil não admite a venda de órgãos humanos e a locação do útero, muito embora permita a doação daqueles e a cessão gratuita de uso deste.Trata-se de colocar limite à exploração econômica de um ser humano sobre o outro. Quem doa um rim ou gera um filho no lugar de outra pessoa, age por generosidade e não por necessidade. Admite-se o sacrifício, só por ter nascido da máxima liberdade.Para obter o necessário, para comprar comida, para pagar pela moradia, para sustentar os filhos, o Direito admite que as pessoas trabalhem, mas não que entreguem partes de seu corpo.E ao admitir que trabalhem, faculta-se-lhes abandonar o trabalho no dia em que assim o desejarem. Mas não pode tolerar que alguém limite tão dramaticamente sua liberdade, pelo período aproximado de nove meses, e isso para obter o sustento.Se há abusos no mercado de trabalho, o certo é combater os abusos e não ampliar o mercado para que passe a abranger outras dimensões da vida.Argumenta-se que de nada adianta proibir se essas coisas acontecem. Ora, adianta e muito. O Direito não está obrigado a ceder ante a realidade. Em alguns casos, como nesse, deve afrontá-la. Dele se espera que aponte o caminho e jamais que empreste sua força para confirmar as tragédias humanas.Quem leu “Os Miseráveis”, o magnífico romance de Victor Hugo, deve se lembrar da pobre Fantine vendendo os próprios dentes, um a um, para sustentar a filha pequena.Não gostaria que o Direito Civil brasileiro chegasse a esse ponto.Mas há quem pense de outro modo. Para Rodrigo da Cunha Pereira:“O corpo é um capital físico, simbólico e econômico. Os valores atribuídos a ele são ligados a questões morais, religiosas, filosóficas e econômicas. Se a gravidez ocorresse no corpo dos homens, certamente o aluguel da barriga já seria um mercado regulamentado. Não seria a mesma lógica que permite remunerar o empregado no final do mês pela sua força de trabalho, despendida muitas vezes em condições insalubres ou perigosas, e considerado normal? O que se estaria comprando ou alugando não é o bebê, mas o espaço (útero) para que ele seja gerado. Portanto, não há aí uma coisificação da criança ou objetificação do sujeito. E não se trata de compra e venda, como permitido antes nas sociedades escravocratas e endossado pela moral religiosa. Para se avançar, é preciso deixar hipocrisias de lado e aprender com a História para não se repetir injustiças. É preciso distinguir o tormentoso e difícil caminho entre ética e moral” (PEREIRA, Rodrigo da Cunha, “Direito das Famílias”. Rio de Janeiro: Forense, 2020).” – Giordano Bruno Soares Roberto

Questão interessante. Me parece haver bastante diferença entre os dois casos analisados.Na questão da barriga de aluguel, tendo a concordar com o Rodrigo. Pode ser visto como uma prestação de serviço. Porém, isso levaria a outras questões polêmicas. E se a mulher resolvesse desistir do contrato no meio do caminho? Seria permitido o aborto? Resolveria em perdas e danos? Ou ela seria obrigada a levar o contrato até o fim? Ai viraria uma espécie de escravidão?Já na questão da venda de órgãos tendo a concordar com você. Não é serviço nem tão pouco produto. Órgãos não é algo que alguém consiga produzir. A pessoa nasce com eles e não tem sobressalente. O pedaço vendido iria quase que fatalmente abreviar a vida do vendedor. Sei que é uma questão moral. Talvez seja uma questão de empatia. O fato é que não consigo achar aceitável a venda de órgãos que não se regeneram. Venda de partes que se regeneram, como cabelo, unha, sangue, daí, me parece aceitável sem problemas.

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A SOCIEDADE CALA, A ESCOLA FALA

Trabalhei por quase 15 anos em duas escolas simultaneamente, de manhã a pública e a tarde a privada. Na pública conheci o Léo e na privada o Vítor. Léo era o mais velho de quatro irmãos, pai preso, mãe diarista. Quando o conheci tinha 8 anos de idade. Vitor era o mais velho de 2 irmãos, também com 8 anos. Pai e mãe dentistas, consultório em bairro chique. Léo morava em barraco pequeno, de dois cômodos e quase sempre só comia na escola. Vitor morava em condomínio de Luxo, ia pra escola depois de tomar café e almoçar. Ao chegar em casa jantava e tomava leite antes de dormir. Léo, com dez anos cuidava da casa e quando tinha comida, cozinhava, pois a mãe trabalhava o dia todo fora. Vitor, até a última vez que o vi, já adolescente, não sabia lavar uma louça. Léo fazia a lição sozinho e ainda ajudava os irmãos menores. Vitor sempre contou com a ajuda da tecnologia e dos pais. Aos finais de semana Leo brincava com os irmãos na rua e cuidava da casa. Aos finais de semana Vitor frequentava buffets, shoppings, restaurantes. Léo nunca fez um curso extra, pois precisava ficar em casa para mãe trabalhar. Vitor sempre fez inglês, francês, natação e guitarra. Com 13 anos Leo precisou trabalhar na vendinha do bairro para ajudar em casa. Vitor ganhava uma mesada de R$ 200,00. A mãe de Léo se envolveu com um cara da pesada e acabou sendo presa. Vitor sempre contou com o apoio e suporte de uma família unida, equilibrada e presente. Quando Leo completou 15 anos seus irmãos foram para um abrigo e ele ficou com um parente próximo. Aos 15 anos Vitor ganhou uma viagem para o exterior. Na casa nova, Leo precisou ajudar com as despesas trabalhando período integral, deixou a escola temporariamente. Vitor entrou em universidade renomada totalmente financiada pelos pais. Não sou mais professora nessas escolas, mas colegas que ainda trabalham lá me deram notícias atuais: Leo hoje trabalha no IFood durante o dia para pagar um curso técnico que faz a noite e o Vitor acabou de se formar em engenharia. E ainda tem gente nesse mundo que defende a meritocracia! O Léo é só uma história entre milhares. Um garoto que se esforçou muito, mas encontrou diversos obstáculos pelo caminho que trilhou a pé descalço em chão de terra (enquanto o colega Vitor viajava de “jatinho particular”). O Léo vai chegar ao destino e se formar, eu tenho certeza disso, mas por causa de uma sociedade injusta e desigual, o menino vai levar o triplo do tempo e precisar do triplo de força pra não desistir… Quem usa o argumento da meritocracia, pra mim, é porque nunca conheceu a realidade das nossas periferias de verdade. Fala de algo que não existe! E, pior, coloca um peso enorme nas costas de quem já sofre. Isso se chama tortura!” – Postado por uma professora.

Meus comentários:

1. Vitor não tem culpa pela situação de Léo.
2. As circunstâncias difíceis que Léo enfrenta não são causadas pelas circunstâncias fáceis que Vitor vivencia, nem vice-versa.
3. Igualar todo garoto rico a Vitor e todo garoto pobre a Léo é preconceito. Nem toda família rica é bem estruturada e cuidadosa com os filhos como o texto sugere que a de Vitor é. Nem toda família pobre é desestruturada levando os filhos à uma situação de abandono como a de Léo.
4. Usar esse texto para criticar a meritocracia é desconhecer o conceito. Meritocracia não é sobre todos saírem do mesmo lugar, nas mesmas condições e buscarem os mesmos resultados. Isso é gincana. Meritocracia é sobre fazer o melhor, com os recursos de que se dispõe, buscando a realização de interesses pessoais. Pelo texto, tanto Vitor quanto Léo têm muitos méritos.
5. Se quisermos ver menos Léo’s no nosso país, precisamos entender os motivos pelos quais temos tantos. E tem que ver os motivos reais, específicos, não basta se acomodar a narrativas genéricas como “sociedade injusta e desigual”. E então poderemos atuar para diminuir os obstáculos e aumentar as oportunidades.
6. Eu tenho convicção, e aí é uma opinião pessoal, que não é dando cada vez mais dinheiro para o governo supostamente fazer projetos sociais para os Léo’s enquanto a maior parte dos recursos se perdem em ralos de corrupção e ineficiência que vamos melhorar esse quadro. E muito menos vamos melhorar as coisas culpando e caçando os Vitor’s.

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ARMAS

“Adolescente mata amiga com tiro acidental após pegar arma do pai em condomínio de luxo em Cuiabá” – g1.globo.com, 13-Jul-2020.

Pessoas morrem em acidentes de carro. O que fazemos? Criamos iniciativas pra melhorar a educação para o trânsito ou proibimos os carros?
Pessoas morrem em acidentes com a rede elétrica. Criamos campanhas educativas ou proibimos o uso de eletricidade?
Pessoas morrem afogadas. Investimos em educação e salva-vidas ou proibimos banhos de mar e piscina?
Alguma atividade útil ou prazerosa pras pessoas envolve alguns perigos. Educamos para o uso consciente ou proibimos?
Pessoas morrem com acidentes com armas (ferramentas de defesa). O que fazemos? A resposta deveria ser coerente com as outras respostas acima.

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ANONIMATO

Eu entendo que a melhor forma de coibir as fake news, a proliferação de robôs e perfis falsos, é vinculando tudo a um CPF. Quer escrever besteira e difamar outras pessoas? Fique a vontade, mas responda por isto! Liberdade com responsabilidade.” – Alexis Fonteyne

Já fui favorável a essa ideia, de coibir o anonimato, mas, depois repensei e hoje acho má ideia. Tem pessoas que sabem coisas importantes mas estão sob pressão ou ameaças e preferem falar de forma anônima. Tem pessoas que não querem se comprometer, então, se tiverem de se identificar, vão deixar pra lá segredos que são de interesse público. E, finalmente, se vamos acabar com o anonimato teríamos que acabar também com o sigilo da fonte. Afinal, se todos são iguais perante a lei, não há porque jornalistas terem o privilégio do anonimato em detrimento dos outros mortais. Não podemos jogar a criança fora com a água do banho. Acabar com o anonimato teria mais efeitos ruins do que bons. O que precisamos é cultura de ceticismo, é aprendermos a desconfiar do que ouvimos, a checar os dados quando possível, a nos informarmos em fontes variadas. Não há salvação fora da liberdade.

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