CENSURA E PROPRIEDADE

(Leitura: 5 min)

Tema sugerido pela amiga Carla RA. Obrigado, Carla.

Era uma vez um espaço de produção e compartilhamento de conhecimento, acessível ao mundo todo, livre de qualquer censura e preconceito. Esse foi o sonho de muitos românticos que viveram os primeiros passos da Internet.

Mas, não tardou ficar claro que a verdade passa longe disso. Na medida que a Internet se popularizou, vimos que boa parte do público está mais interessada em fofoca de celebridades ou vídeos de gatinhos do que em conhecimento útil. E quem quer trocar ideias geralmente prefere se organizar em bolhas com os que pensam igual a si para louvar as próprias teses e xingar quem pensa diferente.

Daí, surgiram as redes sociais e seus algoritmos baseados em likes e reforçaram o sentimento e o comportamento tribal. Esse é o pano de fundo do cenário atual onde vemos cada grupo buscando formas de limitar a voz e a visibilidade dos grupos rivais.

Essa caça à liberdade de expressão alheia se dá em duas frentes. Uma delas é a censura estatal, seja através de projetos de lei nos parlamentos, de decretos dos executivos ou de sentenças e mandados emanados do judiciário. Busca-se, através da força do estado, impedir que opositores digam o que pensam, evitar que autoridades sejam criticadas, criminalizar opiniões, punir o pensamento discordante. Essa frente da censura estatal é execrável e deve ser repudiada e combatida por qualquer pessoa que preze por liberdade.

Mas há uma segunda frente de contenção da expressão alheia. Empresas que lidam com informação selecionam a quem darão voz, quais ideias terão espaço, qual o alcance cada manifestação terá. Redes como Facebook, Twitter, Instagram e outras tem suas políticas, selecionam o que vão repercutir e mesmo quem pode ser usuário. Jornais, revistas e portais selecionam seus jornalistas e colunistas e os submetem a políticas editoriais. Essas seleções não são isentas, envolvem critérios econômicos, políticos e ideológicos, entre outros. E isso é legítimo. A autonomia de cada empresa ao administrar sua propriedade privada também deve ser respeitada por quem gosta de liberdade.

Claro que a censura privada também impacta a sociedade, também priva as pessoas de alguns conteúdos e exagera a importância de outros, também distorce verdades, também promove mentiras. Devemos deixar isso quieto em nome da liberdade? Não. Mas, desafios privados à liberdade devem ser enfrentados de maneiras distintas.

Primeiro, quem se sente diretamente prejudicado tem a opção de buscar na justiça indenizações civis e condenações criminais.

Segundo, o bom do ambiente privado é que há espaço pra concorrência. Nem toda rede social é igual, nem todo jornal tem a mesma linha editorial. Cada um faz um recorte distinto, cada um é seletivo de um jeito diferente. Além disso, por maior que seja um império, ele nunca está a salvo das invasões bárbaras. Todo dia tem uma nova rede social sendo lançada, algum empreendedor tentando emplacar a próxima grande rede. Todo dia tem alguém trocando um grande jornal por um blog, um canal de vídeo, um jeito qualquer de propagar um ponto de vista barrado por um grande editor.

Cabe a quem vê a liberdade como uma causa válida ser cético, buscar fontes variadas de informação, duvidar tanto daqueles com quem sempre concorda quanto daqueles de quem sempre discorda. A verdade raramente está toda nos extremos. Vale também ficar de olho nos novos empreendimentos, sejam redes, sites, blogs, revistas, ou algo no qual ninguém tinha pensado antes. É bom ver quais parecerem mais promissores, incentivar com consumo, divulgacao e participação. E, quem sabe, seja hora de ter sua própria iniciativa, de criar novos canais de comunicação e compartilhamento de informações. Mais importante do que achar a solução perfeita é achar uma que funcione e ajudar a aperfeiçoá-la.

NATURAS, THAMMIES, TRANS E TOFOLLIS

A Natura é uma empresa privada e pode estrelar suas propagandas com o que ela quiser, seja homem, mulher, trans, capivara ou árvore. Comprar ou não produtos da natura é escolha de cada um. E é direito de cada um elogiar ou criticar, comprar mais ou boicotar.

O que assusta do noticiário recente é o presidente da Corte Suprema achar que ele e a instituição que ora preside são editores do país, que têm o direito de controlar o que os brasileiros dizem. Talvez queiram controlar também o que pensamos.

Como ainda não nos foi de todo cassado o direito de dizer o que pensamos, digo o que penso do conceito de pessoa trans. O comportamento sexual de uma pessoa é assunto dela. Bem como seu modo de se vestir, de se apresentar, de se comportar, enfim, suas escolhas de vida não são da conta de ninguém. Se uma pessoa do sexo masculino quer transformar seu corpo e seu comportamento a ponto de parecer uma mulher, está em seu direito. Porém, quando a pessoa quer impor, pela força do estado, que os outros a reconheçam como mulher, passou do ponto. Mulher é um conceito já bem definido. Já que a pessoa não quer ser considerada homem, que crie para si um novo conceito. Exigir para si o conceito de mulher é uma violência porque esse já tem dono, já é a identidade de um grupo bem definido. A pessoa pode se apresentar como mulher pra si mesma, pode até buscar convencer outras a lhe dar tal título, mas, obrigar a todos a aceitar tal ficção está errado. E fica ainda mais complicado quando a pessoa pleiteia o reconhecimento civil e as consequentes diferenciações de tratamento por parte do estado. O mesmo vale para uma pessoa do sexo feminino que faz o caminho oposto.

Cada indivíduo deve ser livre pra viver sua vida como melhor lhe convier. Cada grupo deve ser livre para construir seus espaços, realizar suas aspirações e serem respeitados. Porém, ninguém tem o direito de invadir um espaço que já é de outro, nem modelar o pensamento alheio, tanto no nível individual quanto social. Quer mudar o pensamento dos outros, seja sobre o mundo ou sobre você mesmo? Convença-os, obtenha o consentimento deles para os seus pleitos. Impor sua narrativa à força ou colonizar um território que já tem outro dono não é progresso, é só mais uma ciclo de violência.

QUEM FOI HUMILHADO?

Vejo os jornais cheios de manchetes do tipo “Desembargador humilha guarda municipal em Santos” ou variantes dessa frase, onde se detalha o caso de um desembargador que, ao ser multado por não estar usando máscara ao caminhar em via pública, se irrita, chama o fiscal de analfabeto, liga para o Secretário de Segurança do Município, rasga a multa e tenta intimidar o fiscal com a famosa frase brasileira “Você sabe com quem está falando?”.

Pode-se discutir se decretos municipais obrigando o uso de máscaras são ou não constitucionais e outros pontos jurídicos e sociais relativos ao uso obrigatório de máscara em geral, mas, esse post não é sobre isso. O que me chamou atenção foi o recorrente uso da palavra HUMILHAÇÃO nas machetes de jornais e sites de notícias.

Acredito que a imprensa deve ser livre pra se expressar do jeito que achar melhor e o Estado só deve interferir via judiciário se alguém que se sinta prejudicado reclamar. Isso devia ser óbvio mas é sempre bom relembrar. No entanto, isso não impede que critiquemos a imprensa e a responsabilizemos pelas percepções que ela gera nas pessoas.

Acho o verbo humilhar extremamente inadequado para descrever o que ocorreu. O que vemos é um fiscal fazendo o trabalho para o qual é pago, agindo de forma profissional diante de um cidadão mal educado, arrogante, prepotente e, ao que tudo indica, um péssimo funcionário público, que usa seu cargo como um suposto título de nobreza fora de época, que deveria ser julgado e punido adequadamente, coisa que não vai acontecer porque nossas leis são lenientes com funcionários públicos ruins, especialmente quando pertencem ao judiciário. Porém, o fiscal não tem nenhum motivo para sair da cena humilhado. Pelo contrário, ele tem motivo é pra sair satisfeito consigo mesmo e ser elogiado por sua conduta e profissionalismo neste caso.

Acredito que a imprensa presta um desserviço ao criar essa narrativa de humilhação. Dá ao agressor um poder ao qual ele não faz jus. Dizer que o desembargador humilhou alguém é reconhecer nele uma suposta superioridade que ele não tem, é fazer dele um senhor de pessoas quando ele é apenas um funcionário público, cuja função é servir e não exigir. Só se humilha quem se permite se humilhar. Um funcionário público que está fazendo seu trabalho como o fiscal não tem motivo pra se sentir humilhado. Ao insuflar tal narrativa a imprensa incentiva uma atitude vitimista e perde a oportunidade de promover valores positivos e estimular a auto estima dos trabalhadores honestos.

ARMAS

“Adolescente mata amiga com tiro acidental após pegar arma do pai em condomínio de luxo em Cuiabá” – g1.globo.com, 13-Jul-2020.

Pessoas morrem em acidentes de carro. O que fazemos? Criamos iniciativas pra melhorar a educação para o trânsito ou proibimos os carros?
Pessoas morrem em acidentes com a rede elétrica. Criamos campanhas educativas ou proibimos o uso de eletricidade?
Pessoas morrem afogadas. Investimos em educação e salva-vidas ou proibimos banhos de mar e piscina?
Alguma atividade útil ou prazerosa pras pessoas envolve alguns perigos. Educamos para o uso consciente ou proibimos?
Pessoas morrem com acidentes com armas (ferramentas de defesa). O que fazemos? A resposta deveria ser coerente com as outras respostas acima.

Os posts da categoria “Respostas Abertas” comentam textos alheios que me chamaram a atenção em alguma rede social. O post original é a parte transcrita em “itálico”. O autor é citado quando possível. Se o texto for seu e não te dei crédito ou você não permite a transcrição, favor entrar em contato.

REFORMA TRIBUTÁRIA

Vejo de volta ao noticiário o tema da CPMF. De novo. Dessa vez turbinada por declaração do Ministro Paulo Guedes e do Vice-Presidente Mourão. Lamentável. Aproveito pra deixar claro minha posição sobre reforma tributária.

O que eu apoio:

  • Extinção de imposto;
  • Redução de alíquota;
  • Alongamento de prazo de pagamento;
  • Simplificação da burocracia de arrecadação.

O que eu sou contra:

  • Criação de novo imposto;
  • Troca de um imposto por outro;
  • Aumento de alíquota;
  • Diminuição de prazo de pagamento;
  • Aumento de burocracia.

Mas, Geraldo, nossa carga tributária é mal distribuída, é injusta, é regressiva, blá, blá, blá, tem que reformular, fazer uma ampla reforma, desonerar isso, cobrar mais daquilo, blá, blá, blá… Não. Quem vem com essa conversa é ingênuo ou tá defendendo algum interesse. Toda vez que se faz alguma reorganização dos impostos a carga total acaba sempre aumentando. Não caio nessa.

Ah, mas, tem que cobrar mais dos mais ricos e das grandes empresas… Acorda. Grandes empresas não pagam impostos. Ricos não pagam impostos. Nunca. Em nenhum sistema. Só coletam e entregam pro governo. Isso quando não recolhem e sonegam. Quem está no topo da pirâmide social ganha dinheiro fornecendo produtos e serviços pra quem tá abaixo. Os impostos vão sendo repassados. Quem paga realmente é só quem tá na base, quem trabalha, recebe salário e gasta comprando coisas pra si e pra sua família. Em qualquer sistema.

Ah, mas, os países desenvolvidos tem carga tributária até maior do que a nossa; O importante é como o dinheiro é usado; Tem é que combater a corrupção; Mas a Suécia, o Canadá, a Terra-do-Nunca… Como os outros países se organizam é assunto deles. Respeito, observo, procuro aprender com eles quando aplicável. Mas, somos brasileiros, vivemos no Brasil, temos de considerar nossas circunstâncias e ver o que funciona aqui. A verdade é que aqui sempre tivemos governos que arrecadam cada vez mais e entregam cada vez menos, independente da ideologia ou do partido. Salvo raras tentativas de brincar de austeridade, sempre tivemos governos que gastam mais do que arrecadam e quando a conta não fecha, dão um jeito de jogar a fatura pros trabalhadores na forma de mais impostos, mais dívida ou mais inflação.

Não podemos mais tolerar aumento de impostos, sob nenhuma desculpa nem sob nenhum artifício. Se você trabalha pra ganhar a vida e defende ou aceita aumento de imposto, melhor seria ir até algum beco suspeito e entregar sua carteira pra um assaltante.

ANONIMATO

Eu entendo que a melhor forma de coibir as fake news, a proliferação de robôs e perfis falsos, é vinculando tudo a um CPF. Quer escrever besteira e difamar outras pessoas? Fique a vontade, mas responda por isto! Liberdade com responsabilidade.” – Alexis Fonteyne

Já fui favorável a essa ideia, de coibir o anonimato, mas, depois repensei e hoje acho má ideia. Tem pessoas que sabem coisas importantes mas estão sob pressão ou ameaças e preferem falar de forma anônima. Tem pessoas que não querem se comprometer, então, se tiverem de se identificar, vão deixar pra lá segredos que são de interesse público. E, finalmente, se vamos acabar com o anonimato teríamos que acabar também com o sigilo da fonte. Afinal, se todos são iguais perante a lei, não há porque jornalistas terem o privilégio do anonimato em detrimento dos outros mortais. Não podemos jogar a criança fora com a água do banho. Acabar com o anonimato teria mais efeitos ruins do que bons. O que precisamos é cultura de ceticismo, é aprendermos a desconfiar do que ouvimos, a checar os dados quando possível, a nos informarmos em fontes variadas. Não há salvação fora da liberdade.

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NOVA ORDEM MUNDIAL

(Leitura: 6 min)

Não. Esse post não é sobre uma suposta elite mundial que vai implantar um governo globalista autoritário. Se você é fã de teorias da conspiração atraído pela provocação do título, [não] lamento decepcioná-lo. Continue lendo assim mesmo. De repente você gosta.

Eu confesso. Sempre tive uma pitada de inveja da geração que viveu a década de 1940. Apesar da guerra e de todo sofrimento desencadeado por ela, quem sobreviveu teve a oportunidade de ver o mundo passando por um turnaround, a história dando um cavalo-de-pau bem à sua frente. Em poucos anos a organização política e social do planeta se reconfigurou totalmente, um mundo novo nasceu. Pra quem tava prestando atenção, deve ter sido fascinante de assistir e participar.

Não mais. A invejinha acabou. Suspeito que terei minha própria oportunidade de ver o mundo humano dando uma nova pirueta. Visto por essa perspectiva, a década de 2020 começa animadora. Três fluxos simultâneos parecem se mover nessa direção.

Primeiro, a epidemia, chegando de surpresa e lembrando a todos que somos frágeis; que o mundo lá fora é perigoso; que muitos de nós gostamos de ter um governo que cuide de nós, amenize nossas angústias com certezas bem faladas e nos proteja até mesmo uns dos outros; que na hora do aperto voltamos pra casa e nos refugiamos junto a poucos amigos e familiares. A epidemia empodera a autoridade, justifica os controles, faz muitos de nós desejar ordem mais do que progresso e até esquecer que existe uma tal liberdade. Mesmo que a epidemia esmoreça, acho difícil de não surgir a epidemia 2.0, a 2.0 plus e assim por diante. Daqui pra frente, vamos olhar mais pro mundo microscópico. E quem procura, costuma achar.

Segundo, a divisão do Ocidente entre direita e esquerda chegou num ponto crítico. A esquerda turbinada pelos movimentos identitários. A direita não aguentando mais a pressão da esquerda por reengenharia social. As tensões aumentando. Grupos indo pra rua, partindo pra destruição, às vezes pra porrada. O centro cada dia mais estrangulado. O diálogo entre os extremos diminuindo. As pontes sendo trocadas por muros, figurativa e literalmente. A desumanização de quem tá do outro lado em ritmo crescente.

Terceiro, a China assumindo uma posição de protagonista no mundo. Com o Xi Jinping tendo consolidado seu poder, O PCC mudou de estratégia. Já não disfarça mais seu desejo de comandar o planeta ou pelo menos uma boa parte dele. Se apresenta claramente como antagonista dos EUA, como arauto de um novo modo de organização política, social e econômica. Um modo autoritário, planejado e centralizado, em contraposição à democracia liberal que anda em crise no ocidente. Busca ativamente aumentar sua influência tanto em organizações internacionais quanto dentro de diversos países mundo afora, tanto no nível econômico quanto político. E conta com a vantagem de ser uma sociedade unificada pela força, sem a divisão social que predomina no Ocidente. Ao mesmo tempo, diversos países ocidentais começam a perceber que não dá mais pra tratar a China como um país qualquer, que a tentativa de integrar a China ao Ocidente que vem sendo feita desde o fim da Guerra Fria saiu pela culatra. E muitos começam a reagir. Vemos empresas chinesas sendo banidas de alguns mercados. O tabuleiro da Guerra Fria 2.0 está posto.

Esses três movimentos simultâneos e entrecruzados me parecem ter tudo pra produzir uma mudança disruptiva no planeta. Prever o futuro é uma brincadeira ingrata e é difícil imaginar no que vai dar. Além disso, nós humanos temos uma tendência a pensar que estamos vivendo um momento único na história. É parte da nossa vaidade. Mas, estou apostando que na década de 2030 viveremos num mundo que será, em diversos aspectos, muito diferente do que conhecemos agora. A diferença de cenário entre 2030 e 2020 será muito maior do quaisquer diferenças que podemos notar hoje em relação a 2010.

Os posts da categoria “Profecias” são pequenos chutes, digo, previsões que deixo aqui pra conferir no futuro. São só uma pequena brincadeira com a incerta arte da futurologia.

PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Uma pesquisa divulgada hoje, 18-Jun-2020, pelo DataSenado (Instituto de Pesquisas do Senado Federal), afirma que 84% dos brasileiros são favoráveis à criação de uma lei de combate às fake news. A pesquisa tem lá sua margem de erro. Mas, não duvido desse número. Muita gente é influenciável por campanhas massivas de mídia. Por isso, me sinto na obrigação de fazer um apelo aqui pra minha bolha de contatos. Se você está entre esses 84%, reflita um pouco mais sobre isso. Não existe controle de notícias falsas. Existe controle de notícias. Se for dado a alguma instituição o poder de determinar o que é notícia, as pessoas que a compuserem irão inevitavelmente barrar notícias que lhes incomodem e deixar passar notícias que ratifiquem suas crenças, desejos e interesses. Não farão isso porque são más, desonestas ou incompetentes. Farão isso porque são humanas. É da natureza humana olhar com mais boa vontade o que nos agrada e com um viés mais crítico o que vai contra nossos valores e crenças. É da natureza humana julgar com mais rigor os desafetos e ser mais leniente com os amigos. Quem nunca criticou duramente uma pessoa de que não gostava e, depois de conhecer melhor a pessoa e fazer amizade com ela, passou a ver seus defeitos como maus menores, que atire a primeira pedra. Algumas notícias falsas podem ser fáceis de identificar, mas, na maioria das vezes, a separação entre o que é falsidade e o que é opinião é sutil, é subjetiva, e é por isso que tal análise tem de ficar a cargo de cada espectador, não de uma autoridade supostamente mais iluminada. O nosso país já dispõe de uma variedade de leis e institutos legais que permitem a correção de eventuais excessos de liberdade de expressão. Quem se sentir prejudicado pode procurar a justiça. Não há necessidade de mais lei nessa área. Qualquer lei que seja criada com intuito de evitar notícias falsas, mesmo que com as melhores intenções, será fatalmente usada pelas autoridades de plantão para calar adversários. Sei que é tentador buscar maneiras de calar quem diz coisas que achamos desprezíveis, especialmente quando essas pessoas estão no governo. Mas, lembrem-se, governos passam, quatro anos é um pulinho em termos de história. Já liberdades perdidas são difíceis de se reconquistar. A liberdade de expressão em nosso país é uma conquista recente e que custou muita luta. Não deixemos que ela se perca tão rápido. Não aceitemos tão fácil a volta da censura.

MAIORIAS SILENCIOSAS E MINORIAS BARULHENTAS

Você faz um post numa rede social. 30 pessoas curtem. 10 comentam. Das 10 que comentam, oito criticam. Três fazem mais de um comentário criticando. Duas fazem comentários ofensivos. Você responde aos comentários críticos defendendo seus pontos de vistas. Quem comentou responde. A conversa rende vários comentários. Depois de tempo e energia gastos defendendo seu ponto de vista perante gente que, não só defende veementemente pontos de vista diferentes, mas, são as vezes agressivas e intolerantes, você pensa: Deixa quieto. Vou parar de me manifestar, cuidar da minha vida, ficar no meu canto. Certo? Pense de novo. 30 pessoas apreciaram sua expressão. Oito se incomodaram. Formou-se uma maioria silenciosa e uma minoria barulhenta. É disso que se trata esse post. Muitas vezes damos muita atenção a minorias barulhentas enquanto maiorias silenciosas passam desapercebidas. E assim acabamos sendo guiados por minorias em rumos que vão contra o interesse e o bem estar de quase todo mundo.

Isso não acontece apenas nas redes sociais. Acontece em várias situações públicas e privadas. Quantas vezes não sacrificamos os interesses de um grupo inteiro por causa de uma pessoa que dá chilique?

Outro efeito importante desse fenômeno acontece na política. A opinião da maioria silenciosa é ouvida apenas uma vez a cada quatro anos, quando vamos às urnas. Já as minorias barulhentas interferem nos rumos da gestão pública continuadamente.

Precisamos pensar sobre isso. Precisamos prestar mais atenção nas maiorias silenciosas. Provocá-las a se manifestarem, respeitando seu tempo limitado, afinal, elas tem muito que fazer, mas, sem deixar que passem desapercebidas. Antes de desistir de uma ideia, valor ou projeto que lhe é importante devido ao julgamento de outros, antes de achar que o mundo tá cheio de gente ruim ou chata, antes de calar uma mensagem que poderia inspirar a outros, verifique se você tá se deixando levar pelas minorias barulhentas ou se tá prestando a devida atenção na maioria silenciosa.

ANTIFAS E TALIBÃS

2001: Talibãs destroem estátuas históricas de Buda no Afeganistão e são criticados pelo mundo todo.

2020: Antifas destroem estátuas históricas diversas nos EUA e em outros países ocidentais e são aplaudidos por muitos.

Será que tá na hora de se pedir desculpas aos Talibãs e reconhecer o direito deles de destruírem os símbolos de seus opressores históricos?