ANONIMATO

Eu entendo que a melhor forma de coibir as fake news, a proliferação de robôs e perfis falsos, é vinculando tudo a um CPF. Quer escrever besteira e difamar outras pessoas? Fique a vontade, mas responda por isto! Liberdade com responsabilidade.” – Alexis Fonteyne

Já fui favorável a essa ideia, de coibir o anonimato, mas, depois repensei e hoje acho má ideia. Tem pessoas que sabem coisas importantes mas estão sob pressão ou ameaças e preferem falar de forma anônima. Tem pessoas que não querem se comprometer, então, se tiverem de se identificar, vão deixar pra lá segredos que são de interesse público. E, finalmente, se vamos acabar com o anonimato teríamos que acabar também com o sigilo da fonte. Afinal, se todos são iguais perante a lei, não há porque jornalistas terem o privilégio do anonimato em detrimento dos outros mortais. Não podemos jogar a criança fora com a água do banho. Acabar com o anonimato teria mais efeitos ruins do que bons. O que precisamos é cultura de ceticismo, é aprendermos a desconfiar do que ouvimos, a checar os dados quando possível, a nos informarmos em fontes variadas. Não há salvação fora da liberdade.

Os posts da categoria “Respostas Abertas” comentam textos alheios que me chamaram a atenção em alguma rede social. O post original é a parte transcrita em “itálico”. O autor é citado quando possível. Se o texto for seu e não te dei crédito ou você não permite a transcrição, favor entrar em contato.

NOVA ORDEM MUNDIAL

(Leitura: 6 min)

Não. Esse post não é sobre uma suposta elite mundial que vai implantar um governo globalista autoritário. Se você é fã de teorias da conspiração atraído pela provocação do título, [não] lamento decepcioná-lo. Continue lendo assim mesmo. De repente você gosta.

Eu confesso. Sempre tive uma pitada de inveja da geração que viveu a década de 1940. Apesar da guerra e de todo sofrimento desencadeado por ela, quem sobreviveu teve a oportunidade de ver o mundo passando por um turnaround, a história dando um cavalo-de-pau bem à sua frente. Em poucos anos a organização política e social do planeta se reconfigurou totalmente, um mundo novo nasceu. Pra quem tava prestando atenção, deve ter sido fascinante de assistir e participar.

Não mais. A invejinha acabou. Suspeito que terei minha própria oportunidade de ver o mundo humano dando uma nova pirueta. Visto por essa perspectiva, a década de 2020 começa animadora. Três fluxos simultâneos parecem se mover nessa direção.

Primeiro, a epidemia, chegando de surpresa e lembrando a todos que somos frágeis; que o mundo lá fora é perigoso; que muitos de nós gostamos de ter um governo que cuide de nós, amenize nossas angústias com certezas bem faladas e nos proteja até mesmo uns dos outros; que na hora do aperto voltamos pra casa e nos refugiamos junto a poucos amigos e familiares. A epidemia empodera a autoridade, justifica os controles, faz muitos de nós desejar ordem mais do que progresso e até esquecer que existe uma tal liberdade. Mesmo que a epidemia esmoreça, acho difícil de não surgir a epidemia 2.0, a 2.0 plus e assim por diante. Daqui pra frente, vamos olhar mais pro mundo microscópico. E quem procura, costuma achar.

Segundo, a divisão do Ocidente entre direita e esquerda chegou num ponto crítico. A esquerda turbinada pelos movimentos identitários. A direita não aguentando mais a pressão da esquerda por reengenharia social. As tensões aumentando. Grupos indo pra rua, partindo pra destruição, às vezes pra porrada. O centro cada dia mais estrangulado. O diálogo entre os extremos diminuindo. As pontes sendo trocadas por muros, figurativa e literalmente. A desumanização de quem tá do outro lado em ritmo crescente.

Terceiro, a China assumindo uma posição de protagonista no mundo. Com o Xi Jinping tendo consolidado seu poder, O PCC mudou de estratégia. Já não disfarça mais seu desejo de comandar o planeta ou pelo menos uma boa parte dele. Se apresenta claramente como antagonista dos EUA, como arauto de um novo modo de organização política, social e econômica. Um modo autoritário, planejado e centralizado, em contraposição à democracia liberal que anda em crise no ocidente. Busca ativamente aumentar sua influência tanto em organizações internacionais quanto dentro de diversos países mundo afora, tanto no nível econômico quanto político. E conta com a vantagem de ser uma sociedade unificada pela força, sem a divisão social que predomina no Ocidente. Ao mesmo tempo, diversos países ocidentais começam a perceber que não dá mais pra tratar a China como um país qualquer, que a tentativa de integrar a China ao Ocidente que vem sendo feita desde o fim da Guerra Fria saiu pela culatra. E muitos começam a reagir. Vemos empresas chinesas sendo banidas de alguns mercados. O tabuleiro da Guerra Fria 2.0 está posto.

Esses três movimentos simultâneos e entrecruzados me parecem ter tudo pra produzir uma mudança disruptiva no planeta. Prever o futuro é uma brincadeira ingrata e é difícil imaginar no que vai dar. Além disso, nós humanos temos uma tendência a pensar que estamos vivendo um momento único na história. É parte da nossa vaidade. Mas, estou apostando que na década de 2030 viveremos num mundo que será, em diversos aspectos, muito diferente do que conhecemos agora. A diferença de cenário entre 2030 e 2020 será muito maior do quaisquer diferenças que podemos notar hoje em relação a 2010.

Os posts da categoria “Profecias” são pequenos chutes, digo, previsões que deixo aqui pra conferir no futuro. São só uma pequena brincadeira com a incerta arte da futurologia.

PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

Uma pesquisa divulgada hoje, 18-Jun-2020, pelo DataSenado (Instituto de Pesquisas do Senado Federal), afirma que 84% dos brasileiros são favoráveis à criação de uma lei de combate às fake news. A pesquisa tem lá sua margem de erro. Mas, não duvido desse número. Muita gente é influenciável por campanhas massivas de mídia. Por isso, me sinto na obrigação de fazer um apelo aqui pra minha bolha de contatos. Se você está entre esses 84%, reflita um pouco mais sobre isso. Não existe controle de notícias falsas. Existe controle de notícias. Se for dado a alguma instituição o poder de determinar o que é notícia, as pessoas que a compuserem irão inevitavelmente barrar notícias que lhes incomodem e deixar passar notícias que ratifiquem suas crenças, desejos e interesses. Não farão isso porque são más, desonestas ou incompetentes. Farão isso porque são humanas. É da natureza humana olhar com mais boa vontade o que nos agrada e com um viés mais crítico o que vai contra nossos valores e crenças. É da natureza humana julgar com mais rigor os desafetos e ser mais leniente com os amigos. Quem nunca criticou duramente uma pessoa de que não gostava e, depois de conhecer melhor a pessoa e fazer amizade com ela, passou a ver seus defeitos como maus menores, que atire a primeira pedra. Algumas notícias falsas podem ser fáceis de identificar, mas, na maioria das vezes, a separação entre o que é falsidade e o que é opinião é sutil, é subjetiva, e é por isso que tal análise tem de ficar a cargo de cada espectador, não de uma autoridade supostamente mais iluminada. O nosso país já dispõe de uma variedade de leis e institutos legais que permitem a correção de eventuais excessos de liberdade de expressão. Quem se sentir prejudicado pode procurar a justiça. Não há necessidade de mais lei nessa área. Qualquer lei que seja criada com intuito de evitar notícias falsas, mesmo que com as melhores intenções, será fatalmente usada pelas autoridades de plantão para calar adversários. Sei que é tentador buscar maneiras de calar quem diz coisas que achamos desprezíveis, especialmente quando essas pessoas estão no governo. Mas, lembrem-se, governos passam, quatro anos é um pulinho em termos de história. Já liberdades perdidas são difíceis de se reconquistar. A liberdade de expressão em nosso país é uma conquista recente e que custou muita luta. Não deixemos que ela se perca tão rápido. Não aceitemos tão fácil a volta da censura.

MAIORIAS SILENCIOSAS E MINORIAS BARULHENTAS

Você faz um post numa rede social. 30 pessoas curtem. 10 comentam. Das 10 que comentam, oito criticam. Três fazem mais de um comentário criticando. Duas fazem comentários ofensivos. Você responde aos comentários críticos defendendo seus pontos de vistas. Quem comentou responde. A conversa rende vários comentários. Depois de tempo e energia gastos defendendo seu ponto de vista perante gente que, não só defende veementemente pontos de vista diferentes, mas, são as vezes agressivas e intolerantes, você pensa: Deixa quieto. Vou parar de me manifestar, cuidar da minha vida, ficar no meu canto. Certo? Pense de novo. 30 pessoas apreciaram sua expressão. Oito se incomodaram. Formou-se uma maioria silenciosa e uma minoria barulhenta. É disso que se trata esse post. Muitas vezes damos muita atenção a minorias barulhentas enquanto maiorias silenciosas passam desapercebidas. E assim acabamos sendo guiados por minorias em rumos que vão contra o interesse e o bem estar de quase todo mundo.

Isso não acontece apenas nas redes sociais. Acontece em várias situações públicas e privadas. Quantas vezes não sacrificamos os interesses de um grupo inteiro por causa de uma pessoa que dá chilique?

Outro efeito importante desse fenômeno acontece na política. A opinião da maioria silenciosa é ouvida apenas uma vez a cada quatro anos, quando vamos às urnas. Já as minorias barulhentas interferem nos rumos da gestão pública continuadamente.

Precisamos pensar sobre isso. Precisamos prestar mais atenção nas maiorias silenciosas. Provocá-las a se manifestarem, respeitando seu tempo limitado, afinal, elas tem muito que fazer, mas, sem deixar que passem desapercebidas. Antes de desistir de uma ideia, valor ou projeto que lhe é importante devido ao julgamento de outros, antes de achar que o mundo tá cheio de gente ruim ou chata, antes de calar uma mensagem que poderia inspirar a outros, verifique se você tá se deixando levar pelas minorias barulhentas ou se tá prestando a devida atenção na maioria silenciosa.

ANTIFAS E TALIBÃS

2001: Talibãs destroem estátuas históricas de Buda no Afeganistão e são criticados pelo mundo todo.

2020: Antifas destroem estátuas históricas diversas nos EUA e em outros países ocidentais e são aplaudidos por muitos.

Será que tá na hora de se pedir desculpas aos Talibãs e reconhecer o direito deles de destruírem os símbolos de seus opressores históricos?

NOVO NORMAL

A doença do covid nunca será curada totalmente. Talvez surja uma vacina, mas, a maioria dos especialistas concordarão que ela não elimina 100% dos riscos e alguns cuidados adicionais continuarão sendo necessários. Talvez surjam remédios, mas, a maioria dos especialistas concordarão que nem todos os casos são curados, que o melhor é não pegar o vírus e alguns cuidados adicionais continuarão sendo necessários. Talvez, o problema do covid 19 seja totalmente resolvido, mas, enquanto isso, surgirão o covid 20, o 21, o 21B e assim por diante. Nunca nos livraremos das máscaras. Especialistas concordarão que elas são necessárias em vários relações interpessoais. Será o novo normal. Do mesmo modo que, depois do surgimento da aids, o uso da camisinha se tornou o novo normal em vários tipos de relações relações sexuais.

Os posts da categoria “Profecias” são pequenos chutes, digo, previsões que deixo aqui pra conferir no futuro. São só uma pequena brincadeira com a incerta arte da futurologia.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE AMERICANOS DEFENDEM AGLOMERAÇÃO CONTA RACISMO

1288 profissionais de saúde pública, especialistas em doenças infecciosas e representantes de comunidades nos Estados Unidos publicaram uma carta aberta defendo a aglomeração durante a pandemia para protestar contra o racismo.

Algumas das recomendações da carta se destacam:

. “Apoiar os governos locais e estaduais na defesa do direito de protestar e permitir que os manifestantes se reúnam”.
. “Não dispersar os protestos sob o pretexto de manter a saúde pública por restrições à COVID-19”.
. “Defender que os manifestantes não sejam presos ou mantidos em espaços confinados, incluindo prisões ou vans da polícia, que são algumas das áreas de maior risco para transmissão COVID-19”.
. “Rejeitar as mensagens de que o uso de máscaras é motivado pelo desejo de ocultação e, em vez disso, celebrar rostos cobertos como proteção à saúde pública no contexto do COVID-19”.
. “Preparar-se para um número maior de infecções nos dias após um protesto. Proporcionar maior acesso para testar e cuidar de pessoas nas comunidades afetadas, especialmente quando elas ou suas famílias os membros se arriscam participando de protestos”.

De duas uma: Ou a causa que a pessoa defende a torna imune a contrair e transmitir o vírus; Ou estamos diante de um caso flagrante de dois pesos e duas medidas.

Goerge Orwell nunca foi tão atual. Viva o duplipensar.

Confie na ciência, eles disseram. A ciência está acima de partidos e ideologias, eles disseram.

Link para a carta original em inglês.

FATOS E NARRATIVAS

Conversinha interessante que tive com um amigo hoje.

. Amigo: os três países líderes no rank de morte por covid são governados pela direita (UK, US, Brasil).
. Eu: comparar números absolutos quando os países têm populações diferentes não tem sentido.
. Amigo: calcula aí os números proporcionais, então.
. Eu: Tá aqui um site que faz isso em tempo real (UK, 2o, US, 9o, Brasil, 13o).
. Amigo: esse índice é péssimo!

Conclusão: se os fatos não corroboram a narrativa, dane-se os fatos.

Obs: acho que os três referidos países estão lidando mal com a pandemia. Mas, priorizo a verdade antes das narrativas.

TRAGÉDIA OU POLÍTICA?

‘Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína’

‘Ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus para que as pessoas percebam que apenas o Estado é capaz de dar a solução’

Duas frases ditas no mesmo dia por dois personagens relevantes da política nacional.

Se você se horroriza com uma, mas, concorda ou não se importa com a outra, não está comovido com a tragédia, está se apropriando da pandemia pra fazer política.